O que pensar de um filme onde o Tom Cruise de Colateral (2004) troca olhares com seu personagem 15 anos mais novo, o barman conquistador Brian Flanagan, de Cocktail (1988)? E se eu disser ainda que, no mesmo clube, em um encontro único, Tony Manero (John Travolta), de Saturday Night Fever, conseguiu visivelmente dispertar a inveja de Michael Jackson? Pois é, essa boate existe e se chama Hell’s Club, um clube que reúne a nata dos personagens de Hollywood do final dos anos 70 aos 2000. O curta é um mashup realizado pelo parisiense Antonio Maria da Silva (apesar do nome de portuga!) que tem mais de 5 milhões de visualizações no Youtube desde agosto de 2015. O efeito da montagem é tão perfeito que o espectador se deixa envolver facinho na experiência de ver Al Pacino e Hellraiser em meio ao elenco de Star Wars.
Essa mistureba deu tão certo que o diretor e editor Antonio Maria da Silva já lançou a continuação do filme, Hell’s Club2, com a presença ilustríssima do núcleo de Predador, responsável pelo ápice dramático do curta. E o que aconteceria se misturassem Ghost – do outro lado da vida e Os Caça-fantasmas?
O trabalho de Da Silva é fantástico, principalmente quando se descobre que ele precisou apenas de dois programas pra fazer a coisa toda acontecer: Premiere Pro e After Effects, da Adobe. O diretor não tem medo de revelar os seus segredos. Segundo ele, o mais importante ao fazer um mashup é o Color Grading, ou seja, manter uma temperatura de cor e estilo de iluminação que atribua um aspecto de homogeneidade às cenas. Além disso, é importante estar atento ao foco da câmera em cada imagem e ao ângulo em que elas foram filmadas. Para Da Silva é tudo muito simples: basta dar ao espectador 3 cenas que encaixem uma na outra e o resto do sentido ele preenche com sua imaginação.
Outro mashup bizarríssimo é o encontro de Arnold Schwarzenegger e Silvester Stalone, um duelo com o melhor do gênero: tiro a torto e a direito, explosões e perseguição de helicóptero.
Fazer mashups com filmes de Hollywood foi a única forma que Da Silva encontrou de fazer os filmes que sempre quis, mas que nunca teria tido grana pra realizar. Quando quase tudo já foi feito, os enquadramentos são quase todos os mesmos e a estrutura dos filmes de Hollywood é quase sempre igual, por que não reciclar? Essa é uma ideia de gênio, mas que com certeza deixa o departamento jurídico das grandes produtoras de cabelo em pé. Da Silva acha, no entanto, que o mashup faz parte da cultura da internet: “Quando os jovens não se interessam por um vídeo depois de 30 segundos, eles desligam. É uma pena, mas já vivemos praticamente em um mundo do mashup”.